Wednesday, December 02, 2015

Contos Sem Fim - Um dia como outro qualquer



Contos Sem Fim - “Um dia como outro qualquer”
.
Frase de efeito: “Não era mesmo o meu dia. Se um pombo cagasse na minha cabeça não ficaria surpreso”. Mesmo em uma praça de alimentação de Shopping.
Depois de esperar mais de uma hora (e com hora marcada) pelo urologista que um amigo (muy amigo) indicou - e que era do meu plano de saúde - recebi a notícia que estava se afogando num engarrafamento na Praça da Bandeira. Também quem mandou marcar hora no final da tarde? Hora dos temporais. E ainda sem o tal de piscinão. Nunca fiquei tão feliz com uma consulta desmarcada.
Ainda no carro lembrei que tinha esquecido ligado o som do computador em casa quando saí. O danado adora apitar depois de algum tempo. Como não tenho celular tive de esperar chegar no estacionamento para procurar por um telefone público. Uso cartão, sim senhor. Celi, a secretária (não ... isso é coisa de politicamente corretos e eu não sou), digo, a nossa eterna cozinheira, arrumadeira, faztudo ou quase tudo e, atualmente, muito menos, atendeu já sabendo que era eu. Aflita disse que estava só e quase louca. O apito era alto e já tinha chamado a atenção do porteiro, que não entendia de informática. Uns dez minutos apitando. Menos mal. Expliquei onde estava o botão de desligar e aguardei. Meu medo era que resolvesse puxar algum fio. Mocinha esperta, entendeu quando eu disse que era o botão que tinha uma luz azul. Nunca perguntei se era daltônica.
Ufa.
Antes de chegar ao consultório encarei uma fila descomunal no hall dos elevadores. Tinham dois enguiçados. Tudo bem, pensei, estava adiantado para o compromisso. Fiquei examinando as pessoas (de cima a baixo), como sempre faço para passar o tempo, e acabei esbarrando com um sorriso cúmplice em outra fila. Olhei para os lados, para trás, não reconhecia a figura. Continuou olhando e silenciosamente dizendo que era eu mesmo. E agora? O que devo de fazer? Fiz gestos que não lembrava, que depois falaríamos. Não é que a madame saiu da fila e veio em minha direção? Pronto. Ferrou. Ela chegou perto e disse meu nome. Agora é que ferrou mesmo. Não tinha a menor ideia. A fila andou e eu torci para que chegasse logo lá na frente. Mas parou. E eu com aquela cara de babaca sorridente, dizendo que não lembrava, que o alemão cada dia se manifestava mais, e tome de ela me dar detalhes de como nos conhecemos em uma viagem. Ainda por cima a trabalho. Uma palestra. Pronto ... estou livre, pensei. Tirei uma onda e disse que foram muitas as palestras. Pedi desculpas pela falta de memória e pela má educação. Pediu meu celular. Não acreditou que não tivesse. Escreveu seu e-mail num tíquete de farmácia e me mandou entrar em contato. O nome? Acho que ela não disse. Ou disse e eu não me lembro? Não escreveu. Mais um troço pra ficar matutando. Quem poderia ser? Mais para bonita, uns cinquenta... Talvez um pouco mais. Sei lá. Discreta. Finalmente o elevador chegou e, para meu gáudio, a minha era a última parada, claro. Combinamos nos encontrar, via contato por email, qualquer dia desses por ali mesmo. Trabalhava no prédio.
Esqueci de dizer que tinha acordado suando em bicas. O ar condicionado parou de condicionar pela manhã. Sou muito calorento. Não é qualquer ventilador de teto que me satisfaz. Uma chuveirada matinal e cadê o jornal? O porteiro avisou que só o meu não tinha chegado. Por que o meu? Por que não o do 101? Porque os jornais saem com o número dos apartamento lá da maternidade dos jornais. Ligar para o serviço de reclamações e aguardar que entregassem um novo. Não quis explicações.
Acho que chega, né?
Pois bem: peguei o carro, paguei o estacionamento, feliz por não estar chovendo, ainda, em Botafogo e fui de volta pra casa em direção à Zona Sul.
Surpreso ouvi a voz da moça do GPS, de quinhentas pratas, que tinha acabado de comprar e instalar:
"A trezentos metros, dobrar à direita". Um susto! Não tinha programado nada ... "A duzentos metros, dobrar à dtrelta".
Nesse instante retumba uma voz masculina, zangada:  
"É dobrar à esquerda! À esquerda! "
"É à direita, sim. E é a cem metros!" responde a voz feminina.
"À esquerda, à esquerda!",
“À direita”
“À esquerda”
.
Parei o carro junto ao meio fio e chorei.
.

No comments: