Wednesday, December 02, 2015

Contos sem fim - ALPARGATAS



Contos sem fim - ALPARGATAS
(1996)

I –

Descalçou a velha alpargata
e calçou a havaiana
novinha em folha.
Jogou fora velhas ideias
que pareciam velhas demais.
Descartou pensamentos amorosos
pois só raiva é o que lhe resta.
Abre a porta para encarar
o seu beco sem saída.


II –

Alpargata velha de guerra, sola de corda, marrom café.
Machuca a sola do pé, mas só um pouco.
Aos poucos a gente se acostuma, acomodando os dedos calejados, espalhados.
Guardada no fundo do baú, fede.
Não de chulé, mas de guardado.
Sabe, aquele cheiro...
Alpargata Roda, rodada.


III –

O cheiro era inconfundível. Zezinho havia chegado a casa e já ia para sua chuveirada.
A mistura de suor e o chulé das Alpargatas Roda denunciavam sua presença.
Meu trabalho diário era recolher as roupas e as alpargatas largadas pelo corredor e levá-las até a área de serviço para pegar um ar.
No dia seguinte estariam prontas para usar de novo. Sem cheiros.


No comments: