Monday, January 04, 2016

O PUM (Menção Honrosa EBT)



O PUM


Na sala, o silêncio.
O escritório, em peso,
espera que alguém se acuse.
Tenso, detetivesco,
examinei, de longe, as mãos dos circunstantes.
Alguma estaria amarela.

Pum submisso, guardado,
resguardado, e eis que de repente,
"não mais que de repente",
solto.
Sem querer. Sem tempo.
Tempo para ir ao corredor,
ao banheiro.
Pum lépido, ligeiro.

E o tempo passava.
Os olhares cortavam toda a sala.
Eu não deixaria passar impune
o pum.

Qual águia,
ou perdigueiro
- que disposição! -

persegui o autor.
Incógnito, ele se esquivava,
não se expunha.
Sem álibi, o autor
do pum.

E tome pum!
Já abusava de sua impunidade.

O pum final, faceiro,
revelou, afinal, seu dono.
Por seu paladar, seu gosto.
Exclusivo.

Como bom cão farejador (!?),
examinando o recanto,
senti, sinto,
o canhão que deu o pum.

Aha!
Ei-lo:
Risonho, ignorante do fato
- para ele tão corriqueiro -,
o dono do pum.


Pergunto-lhe:
Por quê?
Por que aqui,
neste recinto?
Me respondeu, com respeito.

“Todos aqui soltam.
Também solto.
Só que os deles não tem o conteúdo,
o volume,
dos meus.
Um pum solto no espaço não faz mal.
Não maltrata a camada
de Ozônio.
É normal.
Faço com altivez
e, às vezes,
desfaçatez.
Perdoem-me.
Não foi sem querer.
Achei que gostavam,
pois sempre soltei.
Será que nunca notaram?
Por que só hoje?
Sou réu confesso.
Soltei, solto, soltarei.
Meus puns.
Mas, de hoje em diante,
não será mais defronte aos colegas,
que sempre amei”.

Levantou-se da cadeira,
dirigindo-se ao corredor.
Olhou para mim, terno:

"Vá entender de pum, assim",
lá nas quintas do inferno”.

Contos sem fim - Via Transamazônica



Contos sem fim - Via Transamazônica
(dezembro 2015)

Literalmente: era um filho da puta. Nascido e criado em um puteiro na beira da Transamazônica. FDP, Brasil Grande, Ame-o ou Deixe-o. Criado a leite de pato em pouco tempo era o xodó das meninas do lugar e das estradas. Com 14 anos pegou uma carona e foi parar em Imperatriz. Já era um homenzinho. Com sua escola de vida logo foi recomendado para trabalhar em uma das casas de luz vermelha. Ganhava belas gorjetas dos clientes e das damas; sabia como só ele dar um banho de bacia, com direito a muita espuma e massagens com bucha.

Sempre curioso usava seu tempo ocioso para ler o que tivesse à mão. Revistas antigas, jornais deixados pelos fregueses que chegavam de outras cidades e estavam de passagem. E os livrinhos românticos de M. Delly, que considerava água com açucar, mas o máximo em literatura para suas amiguinhas do “randevú”. Imperatriz tinha poucas bibliotecas populares por perto e foi se aventurando cada vez mais longe. Estudar? Nunca pensou nisso. Teve boas professoras que largaram a profissão por algo mais rentável. Aulas de tudo: desde aritmética a História do Brasil e língua portuguesa, passando por ciências. Aproveitava tudo. Seria um bom aluno se cursasse alguma escola.

Mas a sorte não quis assim.
Virou um rato de livros. Os serviços diários no prostíbulo ficavam cada vez mais relegados a um segundo plano. Trazia livros e grudava neles o dia inteiro. Sempre que podia ficava de papo com os viajantes, querendo sempre saber mais, acreditando que assim ficavam bebendo e o bar faturando. Na verdade estava atrapalhando os negócios, ao contrário do que pensava. Mesmo assim as suas amiguinhas adoravam seu pupilo. Um desperdício deixá-lo ali. Apesar de reconhecer que sabia todas as sacanagens conhecidas e mais as que criava. Carinhosas ou cruéis. Tinha até uma clientela própria que foi abandonando. Seu conhecimento era o orgulho e o desespero da casa.

 (Hoje penso: Tudo isso sem Google, apenas com Delta Larrousse ou Barsa).
Mas não sabiam mais o que fazer com o jovem.
.
.
Um fim?

- FDP será um poeta?
- FDP trabalhará nas praças vendendo literatura de cordel?
- FDP será um blockbuster com sua literatura pornô?
- FDP abrirá uma livraria em Imperatriz?
- FDP será sócio do primeiro bordel cult do Norte/Nordeste?
- FDP será abduzido por ETs para gerenciar um negócio de exploração de escravas verdes intergalácticas?
- FDP se candidatará a vereador em Alagoinhas do Bonfim pelo PSC?