O PUM
Na sala, o silêncio.
O escritório, em peso,
espera que alguém se acuse.
Tenso, detetivesco,
examinei, de longe, as mãos dos circunstantes.
Alguma estaria amarela.
Pum submisso, guardado,
resguardado, e eis que de repente,
"não mais que de repente",
solto.
Sem querer. Sem tempo.
Tempo para ir ao corredor,
ao banheiro.
Pum lépido, ligeiro.
E o tempo passava.
Os olhares cortavam toda a sala.
Eu não deixaria passar impune
o pum.
Qual águia,
ou perdigueiro
- que disposição! -
persegui o autor.
Incógnito, ele se esquivava,
não se expunha.
Sem álibi, o autor
do pum.
E tome pum!
Já abusava de sua impunidade.
O pum final, faceiro,
revelou, afinal, seu dono.
Por seu paladar, seu gosto.
Exclusivo.
Como bom cão farejador (!?),
examinando o recanto,
senti, sinto,
o canhão que deu o pum.
Aha!
Ei-lo:
Risonho, ignorante do fato
- para ele tão corriqueiro -,
o dono do pum.
Pergunto-lhe:
Por quê?
Por que aqui,
neste recinto?
Me respondeu, com respeito.
“Todos aqui soltam.
Também solto.
Só que os deles não tem o conteúdo,
o volume,
dos meus.
Um pum solto no espaço não faz mal.
Não maltrata a camada
de Ozônio.
É normal.
Faço com altivez
e, às vezes,
desfaçatez.
Perdoem-me.
Não foi sem querer.
Achei que gostavam,
pois sempre soltei.
Será que nunca notaram?
Por que só hoje?
Sou réu confesso.
Soltei, solto, soltarei.
Meus puns.
Mas, de hoje em diante,
não será mais defronte aos colegas,
que sempre amei”.
Levantou-se da cadeira,
dirigindo-se ao corredor.
Olhou para mim, terno:
"Vá entender de pum, assim",
lá nas quintas do inferno”.