Contos sem fim - Via Transamazônica
(dezembro 2015)
Literalmente: era um
filho da puta. Nascido e criado em um puteiro na beira da Transamazônica. FDP,
Brasil Grande, Ame-o ou Deixe-o. Criado a leite de pato em pouco tempo era o
xodó das meninas do lugar e das estradas. Com 14 anos pegou uma carona e foi
parar em Imperatriz. Já era um homenzinho. Com sua escola de vida logo foi
recomendado para trabalhar em uma das casas de luz vermelha. Ganhava belas
gorjetas dos clientes e das damas; sabia como só ele dar um banho de bacia, com
direito a muita espuma e massagens com bucha.
Sempre curioso usava
seu tempo ocioso para ler o que tivesse à mão. Revistas antigas, jornais
deixados pelos fregueses que chegavam de outras cidades e estavam de passagem.
E os livrinhos românticos de M. Delly, que considerava água com açucar, mas o
máximo em literatura para suas amiguinhas do “randevú”. Imperatriz tinha poucas
bibliotecas populares por perto e foi se aventurando cada vez mais longe.
Estudar? Nunca pensou nisso. Teve boas professoras que largaram a profissão por
algo mais rentável. Aulas de tudo: desde aritmética a História do Brasil e
língua portuguesa, passando por ciências. Aproveitava tudo. Seria um bom aluno
se cursasse alguma escola.
Mas a sorte não quis
assim.
Virou um rato de
livros. Os serviços diários no prostíbulo ficavam cada vez mais relegados a um
segundo plano. Trazia livros e grudava neles o dia inteiro. Sempre que podia
ficava de papo com os viajantes, querendo sempre saber mais, acreditando que
assim ficavam bebendo e o bar faturando. Na verdade estava atrapalhando os
negócios, ao contrário do que pensava. Mesmo assim as suas amiguinhas adoravam
seu pupilo. Um desperdício deixá-lo ali. Apesar de reconhecer que sabia todas
as sacanagens conhecidas e mais as que criava. Carinhosas ou cruéis. Tinha até
uma clientela própria que foi abandonando. Seu conhecimento era o orgulho e o
desespero da casa.
(Hoje penso: Tudo isso sem Google, apenas com
Delta Larrousse ou Barsa).
Mas não sabiam mais o
que fazer com o jovem.
.
.
Um fim?
- FDP será um poeta?
- FDP trabalhará nas
praças vendendo literatura de cordel?
- FDP será um
blockbuster com sua literatura pornô?
- FDP abrirá uma
livraria em Imperatriz?
- FDP será sócio do
primeiro bordel cult do Norte/Nordeste?
- FDP será abduzido
por ETs para gerenciar um negócio de exploração de escravas verdes
intergalácticas?
- FDP se candidatará
a vereador em Alagoinhas do Bonfim pelo PSC?
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