Wednesday, December 02, 2015

Contos sem fim – O clarinetista



Contos sem fim – O clarinetista
(03-14)
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Suco de acerola. Tirado do pé, digo, tirada do pé, a acerola, claro. Uma cor linda. Do suco. Pra agradar tive de beber e dizer que estava ótimo.
Uma pessoa super legal, boa praça, daquelas amiga demais. Nos conhecemos em Quixeramobim, quando visitávamos parentes na cidade cearense. Passaram-se anos até nos revermos em Detroit, numa feira de utilidades domésticas. Ela como compradora de uma filial brasileira de um grande conglomerado internacional e eu como visitante fortuito, um mero colecionador de carros antigos em busca de pechinchas, já que Detroit estava meio por baixo.
No Rio nos aproximamos ao unir nosso gosto por música frequentando a Modern Sound. Gostávamos dela. Eu e minha mulher. Coisas em comum, proximidade de nossas moradias, papos sempre renovados. Um dia, um belo dia, ela apareceu esbaforida em nossa casa. O porteiro não sabia nem a quem anunciar ao interfone. Pela descrição foi fácil reconhecer. Não queria subir. Eva, minha mulher, desceu, e logo me chamou. O negócio era sério. Seu namorado, um clarinetista, tinha tentado o suicídio em sua casa tomando 20 drágeas de Cafiaspirina com um vinho chileno, acho que Santa Helena, merlot.
Chamou uma ambulância que o levou para o Miguel Couto. Lá ela encontrou uma realidade bem diferente da que imaginava. Seu namorado era um terrorista procurado pela Interpol. Deu um jeito de escapulir antes que começassem a interrogá-la. Agora estava conosco, andando pelo calçadão, e contando pelo que passou.
Me veio um único pensamento.
“Só faltava essa, além de tocar mal, terrorista?”
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