Tuesday, June 14, 2016

TABELA PRÁTICA COM 50 CRITÉRIOS PARA AUTO IDENTIFICAÇÃO DDA.





1° Grupo: Instabilidade da atenção
1. Desvia facilmente sua atenção do que está fazendo, quando recebe um pequeno estímulo. Um assobio do vizinho é suficiente para interromper uma leitura.
2. Tem dificuldade em prestar atenção à fala dos outros. Numa conversa com outra pessoa tende a captar apenas "pedaços" soltos do assunto.
3. Desorganização cotidiana. Tende a perder objetos (chaves, celular, canetas, papéis), atrasar-se ou faltar a compromissos, esquecer o dia de pagamento das contas (luz, gás, telefone, seguro).
4. Freqüentemente apresenta "brancos" durante uma conversa. A pessoa está explicando um assunto e no meio da fala esquece o que ia dizer.
5. Tendência a interromper a fala do outro. No meio de uma conversa lembra de algo e fala sem esperar o outro completar seu raciocínio.
6. Costuma cometer erros de fala, leitura ou escrita. Esquece uma palavra no meio de uma frase ou pronuncia errado palavras longas como "cineangiocoronariografia" .
7. Presença de hiperfoco (concentração intensa em um único assunto num determinado período). Um DDA pode ficar horas a fio no computador sem se dar conta do que acontece ao seu redor.
8. Dificuldade de permanecer em atividades obrigatórias de longa duração. Participar como ouvinte de uma palestra em que o tema não seja motivo de grande interesse e não o faça entrar em hiperfoco.
9. Interrompe tarefas no meio. Um DDA freqüentemente não lê um artigo de revista até o fim, ou ouve um CD inteiro.

2° Grupo: Hiperatividade física e/ou mental
10. Dificuldade em permanecer sentado por muito tempo. Durante uma palestra ou sessão de cinema costuma mexer-se o tempo todo na tentativa de permanecer em seu lugar.
11. Está sempre mexendo com os pés ou as mãos. São os indivíduos que têm os pés "nervosos", girando suas cadeiras de trabalho, ou que estão sempre com suas mãos ocupadas, pegando objetos, desenhando em papéis ou ainda ajeitando suas roupas ou seus cabelos.
12. Constante sensação de inquietação ou ansiedade. Um DDA sempre tem a sensação de que tem algo a fazer ou pensar, de que alguma coisa está faltando.
13. Tendência a estar sempre ocupado com alguma problemática em relação a si ou com os outros. São as pessoas que ficam "remoendo" sobre suas falhas cometidas, ou ainda sobre os problemas de amigos ou conhecidos.
14. Costuma fazer várias coisas ao mesmo tempo. É a pessoa que lê e vê TV ou ouve música simultaneamente.
15. Envolve-se em vários projetos ao mesmo tempo. Um exemplo é a pessoa que tem várias idéias simultaneamente e acaba por não levar a cabo nenhuma delas em função desta dispersão.
16. Às vezes se envolve em situações de alto risco em busca de estímulos fortes, como dirigir em alta velocidade"
17. Freqüentemente fala sem parar, monopolizando as conversas em grupo. É a pessoa que fala sem se dar conta de que as outras estão tentando emitir suas opiniões (além de não se dar conta do impacto que o conteúdo do seu discurso pode estar causando a outras pessoas).

3° Grupo: Impulsividade
18. Baixa tolerância à frustração. Quando quer algo não consegue esperar, se lança impulsivamente numa tarefa, mas, como tudo na vida requer tempo, tende a se frustrar e desanimar facilmente.
19. Costuma responder a alguém antes que este complete a pergunta. Não consegue conter o impulso de responder ao primeiro estímulo criado pelo início de uma pergunta.
20. Costuma provocar situações constrangedoras, por falar o que vem à mente sem filtrar o que vai ser dito. Durante uma discussão, um DDA pode deixar escapar ofensas impulsivas.
21. Impaciência marcante no ato de esperar ou aguardar por algo. Filas, telefonemas, atendimento em lojas ou restaurantes podem ser uma tortura.
22. Impulsividade para comprar, sair de empregos, romper relacionamentos, praticar esportes radicais, comer, jogar etc. É aquela pessoa que rompe um relacionamento várias vezes e volta logo depois, arrependida.
23. Reage irrefletidamente às provocações, críticas ou rejeição. É o tipo de pessoa que explode de raiva ao sentir-se rejeitada.
24. Tendência a não seguir regras ou normas preestabelecidas. Um exemplo seria o trabalhador que teima em não usar equipamentos de segurança, apesar de saber da importância destes.
25. Compulsividade. Na realidade a compulsão ocorre pela repetição constante dos impulsos, os quais, com o tempo, passam a fazer parte da vida dessas pessoas, como as compulsões por compras, jogos, alimentação etc.
26. Sexualidade instável. Tende a apresentar períodos de grande impulsividade sexual alternados com fases de baixo desejo.

27. Ações contraditórias. Um DDA é capaz de ter uma explosão de raiva por causa de um pequeno detalhe (por mexerem em sua mesa de trabalho, por exemplo) numa hora, e poucos momentos mais tarde, ser capaz de uma grande demonstração de afeto, através de um belo cartão, flores ou um carinho explícito. Ou ainda ser um homem arrojado e moderno no trabalho e, ao mesmo tempo, tradicional e conservador no âmbito familiar e afetivo.
28. Hipersensibilidade. O DDA costuma melindrar-se facilmente. Uma simples observação desfavorável sobre a cor de seus sapatos é suficiente para deixá-lo internamente arrasado, sentindo-se inadequado.
29. Hiper-reatividade. Essa é uma característica que faz com que o DDA se contagie facilmente com os sentimentos dos outros. Pode ficar profundamente triste ao ver alguém chorar, mesmo sem saber o motivo, ao mesmo tempo em que pode ficar muito agitado ou irritado em ambientes barulhentos ou em presença de multidão.
30. Tendência a culpar os outros. Um DDA muitas vezes poderá culpar outra pessoa por seus fracassos e erros, como o aluno que culpa o colega de turma por ter errado em uma questão da prova, já que este colega estava cantarolando baixinho na hora.
31. Mudanças bruscas e repentinas de humor (instabilidade de humor). O DDA costuma mudar de humor rapidamente, várias vezes no mesmo dia, dependendo dos acontecimentos externos ou ainda de seu estado cerebral, uma vez que o cérebro do DDA pode entrar em exaustão, prejudicando a modulação do seu estado de humor.
32. Tendência a ser muito criativo e intuitivo. O impulso criativo do DDA é talvez a maior de suas virtudes. Pode se manifestar nas mais diversas áreas do conhecimento humano.
33. Tendência ao "desespero". Quando um DDA se vê diante de uma dificuldade, seja ela de qualquer ordem, ele tende a vê-la como algo impossível de ser transposto e com isso sente-se tomado por uma grande sensação de incapacidade. Sua primeira reação é o "desespero". Só mais tarde consegue raciocinar e constatar o verdadeiro "peso" que o problema tem. Isso ocorre porque seu cérebro apresenta dificuldades em acionar uma parte da memória chamada funcional, cujo objetivo é trazer à mente situações vividas no passado e utilizá-las como instrumentos capazes de ajudar a encontrar saídas para as mais diversas problemáticas. Essa memória funcional parece ser bloqueada pela ativação precoce da impulsividade que, nesse tipo de pessoa, encontra-se hiperacionada.

4° Grupo: Sintomas secundários
34. Tendência a ter um desempenho profissional abaixo do esperado para sua real capacidade.
35. Baixa auto-estima. Em geral o DDA sofre desde muito cedo uma grande carga de repreensões e críticas negativas. Sem compreender o porquê disso, ele tende, com o passar do tempo, a ver-se de maneira depreciativa e passa a ter como referência pessoas externas e não ele próprio.
36. Dependência química. Pode ocorrer como conseqüência do uso abusivo e impulsivo de drogas durante vários anos.
37. Depressões freqüentes. Ocorrem em geral por uma exaustão cerebral associada às frustrações provenientes de relacionamentos malsucedidos e fracassos profissionais e sociais.
38. Intensa dificuldade em manter relacionamentos afetivos, conforme será visto na parte referente à dificuldade afetiva dos DDAs.
39. Demora excessiva para iniciar ou executar algum trabalho. Tais fatos ocorrem pela combinação nada produtiva de desorganização aliada a uma grande insegurança pessoal.
40. Baixa tolerância ao estresse. Toda situação de estresse leva a um desgaste intenso da atividade cerebral. No caso de um cérebro DDA, esse desgaste apresentar-se-á de maneira mais marcante.
41. Tendência a apresentar um lado "criança" que aparecerá, por toda a vida, na forma de brincadeiras, humor refinado, caprichos, pensamentos mágicos e intensa capacidade de fantasiar fatos e histórias.
42. Tendência a tropeçar, cair ou derrubar objetos. Isso ocorre em função da dificuldade do DDA de concentrar-se nos atos e de controlar ou coordenar a intensidade de seus movimentos.
43. Tendência a apresentar uma caligrafia de difícil entendimento.
44. Tensão pré-menstrual muito marcada. Ao que tudo indica, em função das alterações hormonais durante esse período, que intensificam os sintomas do DDA. A retenção de líquido que ocorre durante os dias que antecedem a menstruação parece ser um dos fatores mais importantes.
45. Dificuldade em orientação espacial. Encontrar o carro no estacionamento do shopping quase sempre é um desafio para um DDA.
46. Avaliação temporal prejudicada. Esperar por um DDA pode ser algo muito desagradável, pois em geral sua noção de tempo nunca corresponde ao tempo real.
47. Tendência à inversão dos horários de dormir. Em geral adormece e desperta tardiamente, por isso alguns deles acabam viciando-se em algum tipo de hipnótico.
48. Hipersensibilidade a ruídos, principalmente se repetitivos.
49. Tendência a exercer mais de uma atividade profissional, simultânea ou não.

E, finalmente, o último critério, que não se enquadra em nenhum dos quatro grupos de sintomas, mas tem sua relevância confirmada pelos estudos que apontam participação genética marcante na gênese do DDA:
50. História familiar positiva para DDA.

Wednesday, June 08, 2016





TU ME DELETASTES
(Tango-guarânia universitário)
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Tu deletastes mi amor
Tu me deletastes
Deletastes de tu Facebook
De tu twitter, instagram
Me deletastes de tus ojos, de tu boca, de tu casa.
Mejor jugar Minecraft in tu computadora
Olvidar tus bejos,
Tus cariños.

Deleta-me amor,
Deleta-me de tu vida
De tu internet, de tu wi-fi,
Deleta-me, amor,
De tu whatsap.

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Contos sem fim – mai 16
PORCIÚNCULA
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Porciúncula nasceu em berço esplêndido!
Criada sob os cuidados de preceptores europeus que falavam diversas línguas aprendeu História e Geografia, Matemática e Ciências com mestres e doutores em suas áreas.
Mas foi em Gramática e Língua Portuguesa que o bicho pegou. Porciúncula – acredita-se que por influência de seu nome incomum, dado em homenagem a cidade onde São Francisco de Assis construiu sua capela e onde seus pais se conheceram – era gaga. Aliás, bem gaga. Por essa razão não foi colocada em colégios para não sofrer o que hoje chamam de “bulling”.
Todos os foniatras, fonoaudiólogos, psicólogos e psiquiatras foram consultados. Em vão.
Porciúncula era um mistério. Envolta em seu silêncio crepuscular evitava conversas. Os mais próximos riam, disfarçadamente, no seu convívio diário.
Mesmo ao escrever frases corretas em seus pensamentos, enunciados e gramática, Porciúncula gaguejava. Literalmente.
O que ninguém sabia, ou mesmo imaginava, era a origem de Porci – para os íntimos.
Em uma noite de lua cheia Zé Claudio e Maria José, seus pais, passeavam de mãos dadas pela beira do rio Caxipó lamentando carinhosamente a desdita em não poder ter filhos. Os melhores médicos da região e mesmo de fora do país foram consultados, mas o diagnóstico era um só: ambos eram incapazes de conceber filhos. Amavam-se. Pensavam, enquanto caminhavam o quanto era inútil toda a riqueza herdada se não dariam continuidade ao belo trabalho criado por seus pais e avós. Um dia, quem sabe, adotariam uma criança.

Passaram-se os anos e, um belo dia, em um desses passeios, viram uma luz forte, esverdeada bambeando prum lado e pro outro, pra cima e pra baixo na estradinha junto ao rio. Aproximaram-se e deram de cara com um vulto (só mesmo dando esse nome) que aparentemente vomitava. Uma gosma - claro que verde - saia de qualquer lugar proximo ao que poderíamos chamar de cabeça. E caia dentro de um recipiente que era agitado pra cima e pra baixo. Em um determinado momento largou esse objeto e, Vupt, deixando um rastro verde sumiu em direção a um clarão enorme, verde, claro. A curiosidade levou o casal até o tal recipiente de onde partiam sons. Gemidos, algo como um choro, gritos abafados. Dentro de uma garafa de Fogo Paulista agitava-se um pequeno ser, um bebê, do tamanho de uma boneca Barbie. Esverdeada, brilhando. Era demais para os dois. Não sabiam o que fazer. Fugir seria o melhor a fazer. Mas, em sincronia, olharam-se. Pararam por um instante e, num movimento rápido, Zé Claudio pegou a garafa e quebrou-a com uma pedra. O choro parou e o bebê sorriu.
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Com o lenço limpo Zé Cláudio pegou o que parecia ser um bebezinho de brinquedo verde, mas vivo. Com o sorriso mais alegre e o riso mais vibrante. Os três riam. E agora?
Ao chegar em casa subiram discretamente para o quarto e começaram a dar tratos a bola. Estavam diante de um fenômeno. Sobrenatural ou extraterreno, ao menos incomum. Seria algum tipo de milagre? O Bebê (resolveram chamá-lo assim) aos poucos perdia seu halo esverdeado e mudava de cor, aliás, cores. Com seu um palmo de tamanho era gracioso nos movimentos, irradiava felicidade. Sobre o travesseiro mexia bracinhos e perninhas como qualquer bebê recém nascido. Mínimo, mas bebê.
Não sabiam o que fazer e nem mesmo a quem recorrer. O padre da paróquia? Velho demais, até mesmo as carolas reclamavam do seu conservadorismo. Seu clínico geral, médico da família? Também muito idoso. Poucos confiavam em seus diagnósticos.
Em meio a discussões transcendentais sobre a origem do fenômeno e o que fazer deixaram Bebê sobre um travesseiro na cama do casal. Foi Maria José tirar sua roupa para colocar a camisola que aconteceu.
Com um lindo sorriso, já bem coradinha - era menina, dava para perceber -, Bebê flutuou até Maria José e encostou-se em sua barriga. Maria José deitou-se. Nenhum dos dois tentou algum movimento brusco. Pelo contrário. Faziam carinhos com os dedos. Repentinamente Maria José deu um grito abafado. Bebê sumira. Maria José abriu um largo sorriso para Zé Cláudio e disse baixinho: "estou grávida".

Contos sem fim - Mickey e Minnie


  - Minnie grávida? Impossível! Mickey já sabe?
- Ela já fez o teste do sapo e deu positivo. O sapo ria tanto que acabou por estourar.
Godofredo tinha por hábito chamar seus amigos pelos nomes dos personagens de Disney. Pateta era o seu chefe na firma “DESOCRI – Desenvolvimento de Software Criativo”, ou seja, fazedor de joguinhos idiotas para celular. Sabe aquele da galinha que tenta atravessar a estrada? Fizeram uma versão em que a galinha não consegue nunca atravessar. E a variante do TETRIS que não para de cair blocos, cada vez mais rápido e não se consegue desligar a não ser teclando o “@”?
Pois então hoje seria o dia de tomar todas no boteco metido a besta da esquina. Com direito a Fliperama e Jukebox com discos de 45.
Mickey era o Masternerd da turma. Pernambucano arretado que além de boa gente tocava um violão de primeiríssima. No fundo do boteco valia tudo ou, melhor, quase tudo. Cantar, tocar, bater um surdo baixinho, um ovinho, jogar conversa fora. De acordo com o dono – também pernambucano – só não valia falar de política e religião, pois era nisso que acabavam grandes amizades. Futebol podia. O pessoal consumia mais.
Regis, ou Minnie, chegou sob uma salva de palmas.
(cont.)

Meninices



Meninices
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Ferrolhos velhos que travam,
Aldravas caladas, dobradiças que rangem
No casarão antigo
Que hoje é pequeno
Para os olhos da criança que cresceu.
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Jardins de gigantes e pigmeus,
De tarzans e elefantes,
Hoje abrigam ervas daninhas
Formigas e lacraias
Que maltratam recordações de menino.
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Thursday, January 28, 2016

Contos de Fadas - João Gilberto e Maria Lucia



CONTOS DE FADAS ESQUECIDOS

*João Gilberto e Maria Lúcia
(Jan16)
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Era uma vez dois irmãos, gêmeos, que adoravam perturbar sua mãe viúva, doceira das famílias de gnomos da floresta: João Gilberto e Maria Lúcia.
Gorduchinos não podiam sentir o cheiro de um doce.
Um belo dia, com raios e trovões, embrenharam-se na floresta de pinheiros que, na verdade, era de araucárias, em busca de aventura pois, como diziam, ainda não tinham inventado a internet. Levavam um farnel repleto de guloseimas para uma eventualidade.
Ao cair da noite deram-se conta que tinham se afastado demais de casa e resolveram dar uma parada e acampar sob um renque de sei-lá-o-quê. Com suas capas tipo Chapeuzinho forraram o chão e dormiram.
Acordaram sob um sol escaldante e caminharam, caminharam sem destino. O sol cada vez nascia e se punha em uma posição diferente.
A comida já tinha acabado há tempo, estavam famintos, e sabiam que estavam perdidos. Água não era problema. A floresta tinha muitos regatos serpenteando morretes e clareiras. Não aguentavam mais era comer uns frutos meio ácidos, azedo que nasciam sob as araucárias. Nenhum docinho.
Definhavam a olhos vistos. A única coisa a fazer, para não entrar em pânico, era cantar umas Bossas Novas, ou uns Villas, que aprenderam com seu falecido pai, colecionador de 78s. Como eram afinadinhos logo estavam cantando em dueto, harmonizando em terças e quintas. De ouvido.
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Ao fim de uma das caminhadas noturnas viram ao longe uma luz bruxuleante, parecendo de uma casa. Os magricelas, cambaleantes, cansados, deram de cara com algo parecido com uma caixa de presentes gigante. Sob uma das fitas do laçarote encontraram uma porta. Entraram. O cheirinho era bem conhecido pelos dois: chocolate.
Foram caminhando pelo interior da estranha casa passando os dedos pelas paredes e móveis, lambendo, sentindo as diferenças de texturas e sabores. Amargo, meio amargo, 50%, com leite, branco, com nozes...
Entusiasmados se animaram e começaram a cantar de felicidade.
Eis que de repente, não mais que de repente, pulou na frente dos dois uma mulher, de cachos longos e loiros, roupa de ginástica preta, meia 3/4 branca, tenis Mike colorido, casaquinho de moleton preso na cintura e, na cabeça um chapéu cônico, preto, com uma fita vermelha brilhante e, estampado nela, o escudo do Flamengo.
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Era a Bruxa Malvada de Ipanema que fazia ponto no Nove depois que o Pier foi demolido -  saudade dos bons tempos das Dunas da Gal.
Com a consultoria de vários ex ministros da fazenda e economia abriu uma franquia de Chocolates de Gramado feitas ali mesmo na Floresta, com um grupo de chineses que não deram certo no ramo das lanchonetes e pastelarias. Como não imaginava que além da Kopenhagen teria de enfrentar a concorrência das “Cacau Shows” da vida topou contratar mão de obra escrava infantil. E foi no que pensou ao ver aqueles dois.
Perguntou de cara quem estava cantando e ficou surpresa ao saber que o coro mavioso era da dupla.
Ao ouvir a resposta resolveu levar um papo antes de tomar qualquer providência.
Ora bolas, estava chegando em sua casa de campo na Floresta, cansada de malhar na academia. Ali era o seu refúgio onde curtia seus LPs e fitas K7 convertendo-os em mp3 para gravar em pendrive e ouvir em sua vassoura que, por sinal, tinha um puta som, com twitters e caixas bass reflex. Som surround.
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Com voz de bruxa mandou que cantassem uma música de Tom e Vinicius. Eles não sabiam nomes de autores. Apenas sabiam cantar. Ouvidos absolutos.
E, obrigados, cantaram mais algumas que sabiam. No entanto a fome falava mais alto e começaram a falsear, a improvisar. A bruxa, abismada, boquiaberta, descobrira uma nova fonte de renda. Era só saber trabalhar o tesouro que tinha nas mãos.
Em um dos muitos aposentos da Caixa de Presente confinou os dois. Poderiam lamber todas as paredes e móveis, desde que aprendessem determinadas canções. Não era bem a praia da bruxa de Ipanema e, para tanto, contratou os serviços de bruxas de segundo time, do interior do Centro Oeste; Bruxas com chapéus de cowboy, botas de couro com detalhes em taxas e saltos altíssimos. Sabiam tudo sobre programas de TV que bombavam. Com uma verba extra, tipo caixa dois, pediriam auxílio a algumas companheiras da Bahia, chegadas a um axé, umas sangaladas, se bem que já meio fora de moda, mas que sabiam o caminho das pedras. A Bruxa de Ipanema sabia das coisas. Para seu deleite caseiro um Tom, um Johny Alf, Chico, Paulinho da Viola ou Milton e, para faturar algum por fora (não aguentava mais a faxina no meio político e empresarial), uns musicais de quatro acordes.
Com o troco investiria nos Becos das Garrafas da Vida.
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João Gilberto e Maria Lucia engordaram, tiveram aulas de teoria musical, piano e guitarra além de serem obrigados a 8 horas de audição de Bossa Nova, samba jazz, jazz, sambalanço e blues. Pro resto bastava uma horinha.
Sentindo que faltava alguma coisa a Bruxa de Ipanema fez um concurso na Floresta para grupos instrumentais, no tipo The Voiz. O vencedor acompanharia o duo em turnê pelas florestas encantadas do mundo até chegar o dia da grande premiére. Aonde? no Bottle’s, of course!
Esse dia ainda não chegou.
Enquanto isso o Gnomos Quartet vai ensaiando e vão vivendo felizes para, digo, por enquanto.
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Wednesday, January 13, 2016

A Fadinha do Dente



CONTOS DE FADAS ESQUECIDOS



*A Fadinha do Dente
(Jan16)

Era uma vez uma fadinha bem fubidinha. Aprontou de tudo e acabou viciada em crack ao se apaixonar por um personagem de Grimm que não existia na vida irreal. Tal qual Sininho também queria um Peter Pan.
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No Programa de 12 Passos cumpriu uns quatro ou cinco - quando achou que precisaria, no mínimo, de uns duzentos - e se deu alta para se candidatar ao cargo de “Fada do Dente”.
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Estava meio caidinha, mas mantinha um corpinho enxuto, típico de fadinha, e o seu farfalhar de asas tinha um zumbido agradável, calmante. Com umas sainhas - menos Sininho -, mais discretas e um corte de cabelos a la Audrey Hepburn, estava pronta pra assumir. Ao menos como interina.
Passaram-se os dias (ou anos, ou séculos, sabe-se lá como é a contagem de tempo no Mundo da Fantasia) e a burocracia instaurou-se na Fadolândia. Para contornar os entraves decidiram terceirizar alguns dos serviços. A população infantil havia crescido assustadoramente, mas os ingênuos continuavam poucos. Sobravam os interesseiros. O número de Fadas estatutárias já não era suficiente para dar conta do recado.
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Novos tempos, novas ideias, novas tecnologias, MBAs e coisa e tal.
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As Fadas Madrinha se aposentando, compulsoriamente, até que um gênio tipo Steve Jobs resolve implantar o “Plano Odontológico Familiar FADAMED”. Seu lema: “Do dente de leite ao implante você pode contar com a FADAMED. A fantasia ao alcance de toda a família, do neném à vovó.”
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E fadinhas e velhinhos viveram felizes para sempre, com seus sorrisos Kolynos.
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Monday, January 11, 2016

CONTOS DE FADAS ESQUECIDOS



*A Floresta Encantada
(Jan16)

Era uma vez uma floresta. Uma Floresta Encantada. Nela viviam diversos animais, també encantado, em perfeita harmonia. Havia um equilíbrio ecológico sem ser daqueles politicamente corretos, chatos. Não existiam predadores ansiosos, vulgares. Cada qual com seu cada qual, viviam e transavam em paz. Na Floresta Encantada era cultivada diversas espécies de plantas com diversos sabores, dignos de um cardápio requintado, de um Cordon Bleu. Substituiam os diversos cortes de carne, de frutos do mar. Não eram veganos. Era a opção existente ou não seria ela a Floresta Encantada.
Tudo corria tudo bem até que um belo dia o helicóptero do dono da Friboi sofreu uma pane e foi obrigado a um pouso forçado em uma pequena clareira.
Nesse momento foi descoberto o canibalismo e o povo da Floresta Encantada viveu feliz para sempre.

*A Rainha e a Princesa de Bateria
(Jan16)

Era uma vez uma Princesa de Bateria chamada Raymunda que sonhava em ser “a Rainha”. Ela e Oriovaldo, o “Assistente Geral” do carnavalesco não viam a hora em que assumiriam seus verdadeiros papeis na agremiação recreativa. Raymunda malhava dia e noite na academia onde fazia musculação, ferro e jazz. Em troca dava aulas de samba nos períodos pré carnavalescos. Outra preocupação era com seus dentes. Pagou uma nota pela correção e o branqueamento. Oriovaldo malhava a seu modo nas mesas do botequim do Seu João Cem Dedos.
Aqui um parêntese: Cem Dedos porque nasceu com seis dedos em cada mão. Desesperado pelo “bulling” pegou um facão e cortou-os. Só que, como eram juntos aos indicadores acabou ficando com quatro em cada mão. O apelido ficou sendo Cem, com “c” pelo analfabetismos dos companheiros. Fecha parêntese.
Dizia que os cronogramas só com ele eram alcançáveis.
Um belo dia de sol, ou chuva, não lembro bem, Rainha e Carnavalesco despencaram de uma das alegorias enquanto transavam traumatizando toda a Escola. Estava lançada a sorte.
“Espelho, espelho meu, existe alguém mais feliz do que eu?” Cantavam num cantão do galpão das fantasias entre beijos e arrulhos amorosos. Não restava dúvidas. Era a grande oportunidade. O que iriam fazer com o enredo inacabado? Ainda faltava quase um ano para o Carnaval.
E aí veio o Johnny Alf, com seu inesperado fazendo uma surpresa, pra atrapalhar.
O presidente do GRES, usando de suas atribuições estatutárias, tendo como argumento a crise que passava pelo país e, tendo ainda a fuga de patrocínios das grandes empreiteiras, decidiu aceitar a oferta de um país produtor de petróleo e modificar o enredo da Escola. O embaixador, em conversa reservada, entregou um pacote com todas as exigências e roteiro. Até esboço do samba enredo já estava pronto, politicamente impecável. Pra que mexer? Era muita grana. Não havia como negar.
Eim? O quê? Não entendi. Sou apenas um contador de histórias de fadas.
O Assistente? Continuou assistente.
A Rainha de Bateria?
Foi realizado um novo concurso e Raymunda ficou em segundo lugar.
Eim? Ahhh... Sim.
“E viveram felizes para sempre”.
Até que a grana os separe.
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Monday, January 04, 2016

O PUM (Menção Honrosa EBT)



O PUM


Na sala, o silêncio.
O escritório, em peso,
espera que alguém se acuse.
Tenso, detetivesco,
examinei, de longe, as mãos dos circunstantes.
Alguma estaria amarela.

Pum submisso, guardado,
resguardado, e eis que de repente,
"não mais que de repente",
solto.
Sem querer. Sem tempo.
Tempo para ir ao corredor,
ao banheiro.
Pum lépido, ligeiro.

E o tempo passava.
Os olhares cortavam toda a sala.
Eu não deixaria passar impune
o pum.

Qual águia,
ou perdigueiro
- que disposição! -

persegui o autor.
Incógnito, ele se esquivava,
não se expunha.
Sem álibi, o autor
do pum.

E tome pum!
Já abusava de sua impunidade.

O pum final, faceiro,
revelou, afinal, seu dono.
Por seu paladar, seu gosto.
Exclusivo.

Como bom cão farejador (!?),
examinando o recanto,
senti, sinto,
o canhão que deu o pum.

Aha!
Ei-lo:
Risonho, ignorante do fato
- para ele tão corriqueiro -,
o dono do pum.


Pergunto-lhe:
Por quê?
Por que aqui,
neste recinto?
Me respondeu, com respeito.

“Todos aqui soltam.
Também solto.
Só que os deles não tem o conteúdo,
o volume,
dos meus.
Um pum solto no espaço não faz mal.
Não maltrata a camada
de Ozônio.
É normal.
Faço com altivez
e, às vezes,
desfaçatez.
Perdoem-me.
Não foi sem querer.
Achei que gostavam,
pois sempre soltei.
Será que nunca notaram?
Por que só hoje?
Sou réu confesso.
Soltei, solto, soltarei.
Meus puns.
Mas, de hoje em diante,
não será mais defronte aos colegas,
que sempre amei”.

Levantou-se da cadeira,
dirigindo-se ao corredor.
Olhou para mim, terno:

"Vá entender de pum, assim",
lá nas quintas do inferno”.

Contos sem fim - Via Transamazônica



Contos sem fim - Via Transamazônica
(dezembro 2015)

Literalmente: era um filho da puta. Nascido e criado em um puteiro na beira da Transamazônica. FDP, Brasil Grande, Ame-o ou Deixe-o. Criado a leite de pato em pouco tempo era o xodó das meninas do lugar e das estradas. Com 14 anos pegou uma carona e foi parar em Imperatriz. Já era um homenzinho. Com sua escola de vida logo foi recomendado para trabalhar em uma das casas de luz vermelha. Ganhava belas gorjetas dos clientes e das damas; sabia como só ele dar um banho de bacia, com direito a muita espuma e massagens com bucha.

Sempre curioso usava seu tempo ocioso para ler o que tivesse à mão. Revistas antigas, jornais deixados pelos fregueses que chegavam de outras cidades e estavam de passagem. E os livrinhos românticos de M. Delly, que considerava água com açucar, mas o máximo em literatura para suas amiguinhas do “randevú”. Imperatriz tinha poucas bibliotecas populares por perto e foi se aventurando cada vez mais longe. Estudar? Nunca pensou nisso. Teve boas professoras que largaram a profissão por algo mais rentável. Aulas de tudo: desde aritmética a História do Brasil e língua portuguesa, passando por ciências. Aproveitava tudo. Seria um bom aluno se cursasse alguma escola.

Mas a sorte não quis assim.
Virou um rato de livros. Os serviços diários no prostíbulo ficavam cada vez mais relegados a um segundo plano. Trazia livros e grudava neles o dia inteiro. Sempre que podia ficava de papo com os viajantes, querendo sempre saber mais, acreditando que assim ficavam bebendo e o bar faturando. Na verdade estava atrapalhando os negócios, ao contrário do que pensava. Mesmo assim as suas amiguinhas adoravam seu pupilo. Um desperdício deixá-lo ali. Apesar de reconhecer que sabia todas as sacanagens conhecidas e mais as que criava. Carinhosas ou cruéis. Tinha até uma clientela própria que foi abandonando. Seu conhecimento era o orgulho e o desespero da casa.

 (Hoje penso: Tudo isso sem Google, apenas com Delta Larrousse ou Barsa).
Mas não sabiam mais o que fazer com o jovem.
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Um fim?

- FDP será um poeta?
- FDP trabalhará nas praças vendendo literatura de cordel?
- FDP será um blockbuster com sua literatura pornô?
- FDP abrirá uma livraria em Imperatriz?
- FDP será sócio do primeiro bordel cult do Norte/Nordeste?
- FDP será abduzido por ETs para gerenciar um negócio de exploração de escravas verdes intergalácticas?
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