Contos sem fim – mai 16
PORCIÚNCULA
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Porciúncula nasceu em berço esplêndido!
Criada sob os cuidados de preceptores europeus que falavam
diversas línguas aprendeu História e Geografia, Matemática e Ciências com
mestres e doutores em suas áreas.
Mas foi em Gramática e Língua Portuguesa que o bicho pegou.
Porciúncula – acredita-se que por influência de seu nome incomum, dado em
homenagem a cidade onde São Francisco de Assis construiu sua capela e onde seus
pais se conheceram – era gaga. Aliás, bem gaga. Por essa razão não foi colocada
em colégios para não sofrer o que hoje chamam de “bulling”.
Todos os foniatras, fonoaudiólogos, psicólogos e psiquiatras
foram consultados. Em vão.
Porciúncula era um mistério. Envolta em seu silêncio
crepuscular evitava conversas. Os mais próximos riam, disfarçadamente, no seu
convívio diário.
Mesmo ao escrever frases corretas em seus pensamentos,
enunciados e gramática, Porciúncula gaguejava. Literalmente.
O que ninguém sabia, ou mesmo imaginava, era a origem de
Porci – para os íntimos.
Em uma noite de lua cheia Zé Claudio e Maria José, seus
pais, passeavam de mãos dadas pela beira do rio Caxipó lamentando
carinhosamente a desdita em não poder ter filhos. Os melhores médicos da região
e mesmo de fora do país foram consultados, mas o diagnóstico era um só: ambos
eram incapazes de conceber filhos. Amavam-se. Pensavam, enquanto caminhavam o
quanto era inútil toda a riqueza herdada se não dariam continuidade ao belo
trabalho criado por seus pais e avós. Um dia, quem sabe, adotariam uma criança.
Passaram-se os anos e, um belo dia, em um desses passeios,
viram uma luz forte, esverdeada bambeando prum lado e pro outro, pra cima e pra
baixo na estradinha junto ao rio. Aproximaram-se e deram de cara com um vulto
(só mesmo dando esse nome) que aparentemente vomitava. Uma gosma - claro que
verde - saia de qualquer lugar proximo ao que poderíamos chamar de cabeça. E
caia dentro de um recipiente que era agitado pra cima e pra baixo. Em um
determinado momento largou esse objeto e, Vupt, deixando um rastro verde sumiu
em direção a um clarão enorme, verde, claro. A curiosidade levou o casal até o
tal recipiente de onde partiam sons. Gemidos, algo como um choro, gritos
abafados. Dentro de uma garafa de Fogo Paulista agitava-se um pequeno ser, um bebê,
do tamanho de uma boneca Barbie. Esverdeada, brilhando. Era demais para os
dois. Não sabiam o que fazer. Fugir seria o melhor a fazer. Mas, em sincronia,
olharam-se. Pararam por um instante e, num movimento rápido, Zé Claudio pegou a
garafa e quebrou-a com uma pedra. O choro parou e o bebê sorriu.
.
Com o lenço limpo Zé Cláudio pegou o que parecia ser um bebezinho de brinquedo verde, mas vivo. Com o sorriso mais alegre e o riso mais vibrante. Os três riam. E agora?
Ao chegar em casa subiram discretamente para o quarto e começaram a dar tratos a bola. Estavam diante de um fenômeno. Sobrenatural ou extraterreno, ao menos incomum. Seria algum tipo de milagre? O Bebê (resolveram chamá-lo assim) aos poucos perdia seu halo esverdeado e mudava de cor, aliás, cores. Com seu um palmo de tamanho era gracioso nos movimentos, irradiava felicidade. Sobre o travesseiro mexia bracinhos e perninhas como qualquer bebê recém nascido. Mínimo, mas bebê.
Não sabiam o que fazer e nem mesmo a quem recorrer. O padre da paróquia? Velho demais, até mesmo as carolas reclamavam do seu conservadorismo. Seu clínico geral, médico da família? Também muito idoso. Poucos confiavam em seus diagnósticos.
Em meio a discussões transcendentais sobre a origem do fenômeno e o que fazer deixaram Bebê sobre um travesseiro na cama do casal. Foi Maria José tirar sua roupa para colocar a camisola que aconteceu.
Com um lindo sorriso, já bem coradinha - era menina, dava para perceber -, Bebê flutuou até Maria José e encostou-se em sua barriga. Maria José deitou-se. Nenhum dos dois tentou algum movimento brusco. Pelo contrário. Faziam carinhos com os dedos. Repentinamente Maria José deu um grito abafado. Bebê sumira. Maria José abriu um largo sorriso para Zé Cláudio e disse baixinho: "estou grávida".
Com o lenço limpo Zé Cláudio pegou o que parecia ser um bebezinho de brinquedo verde, mas vivo. Com o sorriso mais alegre e o riso mais vibrante. Os três riam. E agora?
Ao chegar em casa subiram discretamente para o quarto e começaram a dar tratos a bola. Estavam diante de um fenômeno. Sobrenatural ou extraterreno, ao menos incomum. Seria algum tipo de milagre? O Bebê (resolveram chamá-lo assim) aos poucos perdia seu halo esverdeado e mudava de cor, aliás, cores. Com seu um palmo de tamanho era gracioso nos movimentos, irradiava felicidade. Sobre o travesseiro mexia bracinhos e perninhas como qualquer bebê recém nascido. Mínimo, mas bebê.
Não sabiam o que fazer e nem mesmo a quem recorrer. O padre da paróquia? Velho demais, até mesmo as carolas reclamavam do seu conservadorismo. Seu clínico geral, médico da família? Também muito idoso. Poucos confiavam em seus diagnósticos.
Em meio a discussões transcendentais sobre a origem do fenômeno e o que fazer deixaram Bebê sobre um travesseiro na cama do casal. Foi Maria José tirar sua roupa para colocar a camisola que aconteceu.
Com um lindo sorriso, já bem coradinha - era menina, dava para perceber -, Bebê flutuou até Maria José e encostou-se em sua barriga. Maria José deitou-se. Nenhum dos dois tentou algum movimento brusco. Pelo contrário. Faziam carinhos com os dedos. Repentinamente Maria José deu um grito abafado. Bebê sumira. Maria José abriu um largo sorriso para Zé Cláudio e disse baixinho: "estou grávida".
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